por Daniel André Teixeira'



Por vezes precisamos de um olhar para nos rendermos a alguém. Ao contemplar aquela pessoa que nos mexe ficamos melhor, seja pela maneira como sorri, como os olhos reluzem ou apenas pelo modo o cabelo dela se mexe. Neste caso o amor até pode ter começado assim, mas sobrevive de outra maneira, com o toque. E é aí onde está a magia.

Passeavam de mão dada numa qualquer destas noites frias de Inverno. Agasalhados, para que o frio não vencesse a vontade do passeio, mas sem nunca deixar que aquelas mãos juntas se largassem. Na outra mão de cada um estava a fiel varinha, que apalpava o caminho e os guiava. Apesar do contratempo que podia ser não poder contemplar o que os rodeava isso não eram impedimento para que sorrissem enquanto trocavam palavras rotineiras e carinhos.

Não se subjugaram ao inferno que podia ser o ter perdido a visão, ou se passaram essa guerra venceram-na sem contestação. Ao ponto de conseguirem brincar com a situação quando ele a larga para colocar um copo de plástico num caixote do lixo e ela exclama "Vê lá se pelo caminho não vês uma mulher jeitosa e te perdes" ... o sorriso dele ao ouvir aquilo arrebatou-me. Era clara a ligação, algo que dura há muitos anos e que só os tem unido ainda mais. Talvez por partilharem a mesma deficiência, ou simplesmente porque se amam apesar disso.
Seguiram rua fora, ao som do toque das varinhas sem esbarrar na mundana multidão que vinha na direcção oposta. Todos no mesmo mundo, na mesma rua, mas eles pareciam num momento só deles.


 Estavam mais felizes do que muitos casais "normais". Numa sociedade onde nos acostumamos a ter tudo como garantido é refrescante ver que por vezes, aqueles que não têm tudo isso conseguem nos ensinar os valores certos.