por Daniel André Teixeira'






Noite cerrada num qualquer recôndito da cidade.
As luzes são apelativas, a chamar aquele saciar da fome que o tempo diurno não cobre. 

Um portentoso indivíduo impõe-se à porta, perante aquele que quer entrar e a porta que serve de obstáculo à noite que deseja. Passado essa paragem com uma nota no bolso era tempo de abrir a porta. A noite começa.

A sala não cria divisões, não discrimina, não julga. Nas mesmas cadeiras revestidas de seda vermelha com mesa redonda encontra-se um mundo conjugado numa divisão. Do banqueiro bem vestido, ao homem de família comum e o jovem mundano que anseia por viver esta vida. Todos com a ideia de saborear aquela noite como deve ser, sem os olhares da sociedade como julgamento de carácter. O barman prepara as bebidas, a companhia que suavizava o ambiente das mesas que se iam preenchendo em pouco tempo. De repente surge o fumo vindo do palco despido, criando o suspense ... o espectáculo iria começar.

Ela entra e é como se o tempo parasse pois muitos estavam lá por ela. Música que puxa o toque, a imaginação, enquanto ela de trajes menores hipnotiza o público com a dança. Tudo real, tudo como se fosse palpável, passível de poder ser de qualquer um ali presente. Em cada batida da música o movimento que deixa louco quem a observa. Porque se calhar aquele banqueiro tem o dinheiro mas só ali sente algum afecto no meio das notas que atira enquanto ela dança, porque aquele homem de família perdeu o encanto pela esposa  e preenche o vazio em vê-la dançar e aquele simples rapaz criou um cenário de amor idílico com a sensualidade que ela cria naquele momento. Uma dança, um erotismo criado para uma sala mas vivido de maneira diferente por todos. Seja como for ela mexe com todo o ambiente. São quase dez minutos que unem a sensualidade, o desejo carnal e o espectáculo numa união que não se explica, apenas se sente. A mulher como centro de um universo concentrado. Um poder em cima de um palco que mesmo com todas as notas atiradas em direcção a ela não conseguem pagar.

Eis que acaba. Os aplausos são a prova que mais uma noite está prestes a terminar, ou não saísse ela do palco. Mesmo com as rotineiras juras de amor dos mais embevecidos por mais uma noite de glamour que rompem a segurança ela fixa os olhos na cortina de volta ao camarim. Para ela não é uma questão de encontrar o amor como muitos ali, é estritamente um negócio, um trabalho. Enquanto eles ainda ficarão no salão ela lá tomará o seu banho, receber o seu envelope por mais uma noite de magia e sair pela porta das traseiras colocando um visto em mais uma noite terminada.
 
As portas já estão perto de fechar. Os sobreviventes tentam regatear por mais um copo ao balcão enquanto são "convidados" a sair pelos seguranças ao mesmo tempo que os empregados limpam a sala. Devagarinho tudo volta ao lugar, cada cadeira no seu sítio, cada toalha limpa colocada nas mesas redondas para a noite seguinte. E em menos de nada, as portas fecham. Mais uma noite terminada.

Haverá mais, numa outra noite cerrada, num qualquer recôndito da cidade.