por Daniel André Teixeira'

Sou Todo Palavras!

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Texto da autoria de Rui Castro


Cada linha que escrevo é um pedaço do meu ser que transplanto para o papel. Tudo o que redijo é pessoal, intimista, interior, puro, sem maquilhagem, sem limagens, sem banhos de edição ou censuras de lápis azulados. Cru, sim, por vezes demasiado cru. Mas sempre fui assim, intempestivo, resmungão, questionador, descontextualizado no mundo em que estava, vivendo num mundo só meu onde as palavras valem mais do que marcas e frases enfeitiçam-me e anestesiam-me como se de um medicamente se tratassem. Quando escrevo sou o terapeuta de mim mesmo. Sem fármacos, químicos ou quaisquer substâncias que me retirem a clarividência, apenas eu e o meu cérebro. Iluminado, ativo, em combustão constante, porque cada neurónio debita personagens, cenários, enredos, diálogos, conceitos em velocidades supersónicas. Dentro do meu motor que é a mente, estou constantemente a criar, a desenhar o próximo texto, a estrutura-lo, não lhe dando descanso. 

Senão escrever sinto-me banal, sinto-me perdido neste mundo, a vida perde aquela tonalidade garrida que me apaixona e torna-se lenta, como se de um domingo pardacento de Novembro se tratasse, num início de inverno inútil e aborrecido. Preciso de me sentir vivo, de sentir o pensamento a processar rapidamente e ao mesmo tempo olhar e ver a história a ganhar corpo, forma, esquema e sobretudo eloquência e uma narrativa que faça as pessoas gostarem e principalmente entenderem o que leem. Se cada pessoa que lê o que eu escrevo se identificar com uma frase, uma metáfora, uma referência, fico feliz, é sinal que consigo tocar no âmago delas e fazê-las sentir perto da minha arte, daquilo que eu idealizo para a minha escrita. Escrevo para mim, para meu prazer pessoal, para me sentir bem, mas se alguém se sentir igualmente bem com cada linha, enche-me de orgulho, satisfação, realização e sentido de dever cumprido. 

Quando morrer, que cada texto que escrevi até essa altura seja relembrado como a melhor parte de mim. Que sejam eles a falarem de quem eu era, de como era, de como pensava. São o meu reflexo, o meu espelho, o meu confessionário diário. Cada erro, cada amargura, cada alegria, está expostas nos artigos, nas histórias, nos desabafos, nos poemas que fiz, faço e farei durante toda a vida, até me sentir 100% são mentalmente e perceber que aquilo que crio ajuda alguém, porque a arte também pode ser humanismo, solidariedade, entreajuda. Que cada noite que eu viva na plenitude das minhas faculdades seja brindada a escrita e solidão, porque preciso de solidão para me transformar em vários seres sem deixar de ser eu e para viajar para enésimos destinos sem sequer tirar os pés do chão, apenas com a força do músculo que se torna o objeto mais forte, potente e poderoso do mundo e que o ser humano em milhares de anos de existência nunca conseguiu dar-lhe a totalidade do uso e quando o fizer dominará tudo no planeta e terá faculdades assombrosas:

O cérebro,
Boa noite.

Rui Castro

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