por Daniel André Teixeira'

Viagem de Vaidade

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Era apenas mais uma viagem. O comboio chegava à estação, as pessoas procuram o luxo de ter um lugar almofadado enquanto outras têm de seguir em pé, sem esse privilégio.

Ela estava sentada, entretida no seu mundo com música reproduzida pelos seus phones, tranquila e serena enquanto olhava pela janela. Ele entra e senta-se perante ela. Por acidente, ou porque lhe chamou a atenção, ele foi ali parar. Rapidamente tentou criar impressão e num relance procura no bolso um conceituado telemóvel de uma marca da moda que se assemelha a uma maça já trincada. Ela segue impávida, não o presenteou sequer com um olhar.

O que podia ser uma mensagem esclarecedora dela tornou-se quase um desafio imperdível para ele. Durante minutos e consequentes paragens, ainda que de modo suave, fez questão de mostrar portátil e tablet (também da tal marca da moda) e ainda criou uma busca por algo dentro de sacos de compras. Tudo em vão. Ela continuou no seu mundo. Um quarto de hora de demonstração de bens que não teve direito sequer a ser recompensado com um olhar de interesse ou curiosidade.

E de repente, o cenário muda. O comboio pára e com suavidade ela pegou na sua sacola e dirigiu-se para a porta. A viagem tinha terminado. Ele ainda a seguiu com os olhos até ao momento em que as portas fecharam mas ela não olhou para trás, sempre embutida de música nos seus ouvidos. Ele perdeu, mesmo tendo muito.


Será errado presumir que uma outra aproximação mais directa fosse aquela que trouxesse outro resultado que esta insignificante passagem rotineira, mas é certo que basear uma aproximação apenas pelos bens e a sua vaidade tem os seus dias contados. Resta saber se ele percebeu a lição e se numa outra ocasião, num outro comboio talvez, ele consiga que alguém abdique da música que ouve e o recompense com um olhar e conversa pela viagem fora.

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