Duas semanas. Duas longas semanas. E duas
semanas separam 10 milhões de 90min. Apelo à razão para fazer estas contas, mas
à emoção quando o momento chegar. Portugal está quase a iniciar a sua caminhada
no Euro 2016. Infelizmente, olho para 2004 e penso onde andará aquele
sentimento que não mais senti desde então…
A 14 de junho, a nossa chama terá de ser
suficiente para descongelar o frio da Islândia. No entanto, é com alguma pena
que o digo: falta um pouco de Euro 2004 agora em 2016. Os tremoços e as
cervejas numa mesinha que separa um grupo de amigos duma televisão de 32
polegadas. As bandeiras em cada janela, criando uma corrente de energias positivas
que empurram um país inteiro para a frente. A varanda aberta. O pôr-do-sol
durante um prolongamento. O festejo nas ruas como sobremesa, depois duma
vitória num qualquer jogo ter servido de prato principal.
Confesso: não sei o que se passou. O futebol
modernizou-se e “desclassicizou” os jogadores. Sinto saudades do carisma do
Figo, das caneleiras para baixo do Rui Costa, da liderança do Ricardo Carvalho.
Até da surpreendente “panenka” do Postiga, da arma secreta Nuno Gomes ou da
magia de Deco. Choro mais que Eusébio, após a vitória frente à Inglaterra,
quando penso que a industrialização desta arte encheu os jogadores de manias.
Vivo bem com a vaidade de Ronaldo, a raça de Pepe ou o espírito altruísta de
Moutinho. Mas não são cromos para a minha caderneta da Panini que eu, em
criança, trocava na escola. Tampouco me passam a ideia de união, de que eu
“convivo” com eles, mesmo estando deste lado da televisão.
Falta entusiasmo. Temos de trazer o
“#SomosPortugal” do Facebook para o “Somos Portugal” na rua, de colocar as
bandeiras na varanda novamente, de fazer soar gaitas e vuvuzelas! No fundo,
talvez nos falte o grito de guerra do “Sargentão” Scolari, para abanar a
estrutura na folha de papel do Eng.º Santos. Porque nem sempre o futebol é
explicado, mas sim sentido, com convicção o digo: que saudades de Scolari…
Com contas iniciei e com contas
terminarei este meu desabafo: será possível, nestas duas semanas que restam,
regredir 12 anos para resgatar aquela “Força”, entoada pela Nelly Furtado, e
trocar pela canção de embalar do Pedro Abrunhosa? Eu acho que sim.
"NOTAS DE UM KLOPP"
Está quase, sentimos a ânsia. Vamos lá
estar mais uma vez.
Em palcos franceses contamos com os nossos 23 que levam com eles a nossa vontade, esperança e querer vencer. É nestes momentos em que o futebol, por muito supérfluo que possa por vezes ser, cria um sentimento de união que é difícil de explicar.
Já passou o tempo de comentar decisões e
convocatória, quando a bola rolar aqueles são os nossos para o que der e vier. Juntos
e com os olhos nas TVs vamos vibrar a cada bola dividida, a cada remate que
ressalte num poste ou num adversário e gritaremos com os golos que esperamos
dos nossos artistas. Contamos com vocês, acreditem que levam com vocês um país
que desde 2004 tem vindo a acreditar que podemos trazer o caneco e reinar na
Europa.
Mesmo que desconfiados não tenho dúvidas. De novo, como um reacender inato quando realmente gostamos, vamos encher restaurantes, esplanadas, parques, vamos munir-nos
de amendoins, tremoços e aquela cerveja fresquinha que dá o combustível para
que nunca nos deixemos ir abaixo. Vamos juntar os amigos e criar estádios em salas de estar e querer cantar o hino antes da bola rolar. Nós não vamos deixar de estar com vocês, só
queremos a reciprocidade e a mesma fome pela vitória vinda dos relvados
franceses que pisarem.
Somos um país que teima em sonhar. Somos
alma, sofredora e trabalhadora e queremos espírito de conquista. Sofremos por
vocês quando em 2014 vimos uma sombra do que podíamos ser num momento em que o
Mundo olhava para aquilo que fomos incapazes de fazer. A Selecção é muito o
espelho do que somos: um misto de experiência e juventude que junta assim a
tarimba que muitos possuem com a irreverência que outros estão ansiosos por
mostrar (para não falar de um tal de Cristiano Ronaldo que ostenta no braço a
capitania desta nação em campo).
Está quase, sentimos a proximidade do
momento.
Estaremos com vocês, ganhem por nós.
Estaremos com vocês, ganhem por nós.
Daniel André Teixeira,
ContraPonto
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