por Daniel André Teixeira'


Invisível mas essencial.
Todos precisamos dela.
Muitos acham que a têm.
Nenhum é capaz de a ter sempre.

É preciso ter paciência para esperar.
É o que nos separa da irracionalidade.
Antídoto para o instinto voraz e selvagem.
É preciso que a tenhamos quando mais queremos algo.
Aclamamos por ela quando o tempo menos bom parece não passar.
Esperamos que ela seja o furo para quando o obstáculo surge enorme perante nós.
Pedimos que ela seja a cura quando o Mundo parece não nos entender.
Arma necessária no momento em que a vida nos tira o tapete de modo indesejado.
É aquilo que molda o caminho que nós queremos que seja de vitória.
É a base de todo o projecto que queremos próspero para nós.
É a companheira que se senta connosco enquanto aguardamos por novos capítulos.
É o que traz o sabor doce quando sentes que a tua espera vale o esforço.
É o que cria as pegadas para o caminho certo nas nossas ideias.
É o material da medalha que te premeia depois de teres aguentado o tremer do Mundo.

 Ter paciência é uma virtude, mas também um privilégio efémero.





É o teu jeito de ser.

É o teu modo de ver o Mundo.

É o teu sarcasmo e a tua resposta sempre pronta a picar-me. 

É o orgulho patente que usas como medalha e com todo o vigor quando o momento assim o pede.

É o olhar sereno que me dás para fazer acordar o optimista em mim.

É a serenidade de quem a realidade parece não tocar, como um escudo que tens contra tudo o que parece errado.

É a maneira como me transmites os teus dias menos bons.

É tudo aquilo que me transmites e que leio em ti mesmo sem soltares uma palavra.

É a tua independência que cria o charme.

É o teu toque que me faz te querer num momento sem prazo para acabar.

É a inteligência afiada de mulher resguardada num sorriso sem par. 

É o teu bem-estar que me faz repousar com a tranquilidade de quem sabe que o dia é melhor contigo assim.


 Tudo isso torna-te a mulher que me encanta;
Tudo isso te torna essencial na minha vida;
Tudo isso me faz lutar por ti a cada dia;
Tudo isso me faz gostar de ti como eu gosto.





Podia ser como uma outra qualquer viagem de comboio, com início e fim mais que traçado levando a multidão que se juntou entre as carruagens num itinerário mundano e normal, mas não naquela noite.

Já com o escuro exterior embutido e com apenas as luzes da rua flagrantes a aparecerem como flashes entre a velocidade que a viagem pedia ele ali estava. Era a atracção da primeira carruagem. Sereno, sozinho e logo na primeira cadeira. Com ele apenas tinha um saxofone já preparado à sua frente. Apesar de incompleto (faltava a parte superior do sopro para criar o som) isso não foi impedimento para que o rapaz simulasse todas as notas, enquanto tocava nas teclas, ditando a pauta que só o seu cérebro sabia e lhe ditava.

Tocava veemente nas teclas do saxofone enquanto se punha de pé. Em seu redor as atenções estavam mais do que concentradas. Podia pensar-se, quem sabe pela hora ou pelo cansaço de mais um dia, que era apenas mais um louco de rua quanto mais não fosse pelo olhar directo e sério do rapaz que se mantinha focado na melodia silenciosa que criava.
Quem sabe se na sua mente não lhe passou o legado de Miles Davis ou John Coltrane e naquela viagem lá lhes fez o tributo à sua maneira.
Quase vinte minutos de "espectáculo" com um auditório improvisado.

A viagem terminou mas o jovem saxofonista não se fez rogado e todos os passos que deu desde a saída do comboio até ao fim da estação foram acompanhados com o toque dos seus dedos nas teclas, a melodia ainda não terminou para ele e era a sua companheira de percurso.

A prova que para se fazer o que se gosta não precisamos de toda a perfeição do momento, apenas o necessário.