por Daniel André Teixeira'


O dia estava feito, era hora de voltar.
Noite cerrada, chuva como figura principal.

A cada passo dado o timbre que a chuva impingia fazia com que aqueles pequenos metros fossem uma travessia conturbada.
Esse infortúnio termina e ele encontra conforto no carro, mas é apenas momentâneo: havia uma viagem de regresso a fazer.

Estava claro que o temporal era a companhia de percurso. Era entre os seus devaneios que se arrancava, parava e mudava a velocidade entre os lençóis de água que serviam de piso pouco confiável. Mesmo fazendo dos seus instintos uma arma de segurança a qualquer deslize o controlo da situação estava sempre dependente da intempérie que teimava em ruir dos céus.

O cenário fazia com que o tempo fosse relativo, não porque não passava, mas sim porque todos os sentidos estavam virados para os quilómetros a percorrer. Os mais fiéis parceiros eram as escovas que lá iam mostrando o troço em frente e os pedais que marcavam o ritmo do retorno.

Uma mensagem surgia no telemóvel. A monotonia de um semáforo vermelho faz com que o olhar se centre no pequeno ecrã: "Estou à tua espera". O smile feliz que termina a SMS faz com que sorria e cria um desejo ainda maior de chegar ao destino. A viagem já ia a meio, mas não tinha terminado. Tinha ganho aí mais uma razão para voltar.

Como uma relação duradoura a chuva continuava a pintar a realidade e com cada vez mais intensidade ia caindo. Já perto do fim se via a incapacidade das pessoas que viam o seu guarda-chuva ser insuficiente enquanto que uma marcha de carros tinham bem patente a cor vermelha na sua parte de trás como quem se salvaguarda de qualquer vontade de acelerar.

Último momento de paragem antes de chegar. Apenas alguns metros de alcatrão o separavam de poder estacionar e voltar a casa para um ambiente mais quente. Luz verde, mudança pronta e seguiu para a sua rua. Estaciona com a mestria como quem dançou entre a chuva e desliga o carro pela última vez. 

A querela da viagem tinha terminado.
Ao chegar beijou a sua amada. A tempestade foi companheira, fez com que demorasse e até lhe promete mais "danças", mas não lhe tira o engenho para que volte e continue a ter razões para regressar ao seu lar.