por Daniel André Teixeira'



À noite todos os gatos são pardos, lá diz a eterna frase de rua.

Ao cair do dia e ao nascer do seu final eles lá surgem. Munidos de toda uma confiança entre as roupas de marca que vestem, passando sempre pelo telemóvel que serve para marcar ou descobrir o spot daquela noite. O mundo é deles naquela noite que saem à rua, divertir é o objectivo, recorda-la é secundário. Nenhuma noite é igual, todas trazem diferentes encantos. Sozinhos ou em bando eles assaltam as ruas à procura de mais um momento, mais uma foto para o instastories, mais uma bebedeira entre amigos entre piropos e indirectas a quem agrada ao passar.
Que a aventura comece.

O que relato a seguir vem de uma noite em que aguardava estacionado em plena sexta-feira na baixa do Porto. Entre muitos que subiam e desciam as ruas sozinhos ou acompanhados (nem que fosse de cerveja), houve dois rapazes que me chamaram a atenção. 

Um deles era o confiante. O modo de andar, a audácia no olhar como que nenhuma mulher lhe escondesse algo que ele não antecipasse, o sorriso matreiro de quem anda no engate à mais tempo do que se imagina. O outro era o novato. Mais pacato, de mãos nos bolsos, retraído, sem grande expressões e mesmo bem apresentado seguia as pisadas do amigo.

Eis que interceptam um grupo de quatro mulheres. Chamo mulheres porque é mesmo esse o termo. Um grupo numa "girls night out" em que os maridos ficaram claramente em casa. Todas bem apresentadas e com a experiência mais do que vincada em cada uma. O modo de chamar a atenção foi simples: pediram lume. Após isso eis que o mais confiante tenta perceber onde as mulheres vão tomar um copo e se podiam ser mais dois a juntar à festa. Falaram durante minutos entre os sorrisos de experiência delas e os corações "inocentes" deles que pensavam ter tudo sob controlo.

O jogo seguiu sem que eles percebessem que estavam a ser levados. O mais tímido só dava um sorriso quando elas o olhavam quase em matilha à caça da presa; o outro ainda acreditava que estava no caminho certo e que ia ter uma história e pêras para contar aos amigos no dia a seguir. 

O desfecho foi fácil de antever: Uma mão de uma delas pousava no ombro do mais confiante como quem diz "Rapaz, é coisa para o meu filho ter a tua idade. Desiste, não tens o andamento que eu quero". Elas continuaram a sua vida com mais uma gargalhada a partilhar entre copos nessa noite sempre que se lembraram do que se passou, a noite em que dois miúdos tentaram a sua sorte e saiu furado. Eles lá "perderam" sem nunca perceberem muito bem como e de que modo fica o orgulho depois de tal desaire.

Para eles a sua irreverência nessa noite foi arma sem balas e como eles muitos outros "falham" na selva que pode ser uma saída à noite. É assim a noite para a malta, uma roleta russa em que se joga a diversão entre a sorte e o azar.





O dia começa a conhecer a desvanecer.
Com a escuridão das horas nocturnas certas luzes se acendem para iluminar algumas ruas. Elas saem para mais um dia, mais uma noite à procura de dar amor a quem queira, ainda que com tempo contado.

Umas apresentam-se à frente de um simples clube, de uma "pensão do amor" onde entregam o seu corpo a um qualquer estranho; já outras enfrentam a rua, fazendo das esquinas o seu forte e esperando pelos "habituais" que as procuram. Entre olhares frios de quem sabe que são um negócio a outros porém mais inocentes de quem não tem outra possibilidade de vida eis que se expõe assim, às luzes da cidade à espera de uma noite proveitosa. Com mais ou menos idade elas são as mulheres que a noite traz.

A clientela é diversa. Entre os engravatados que agitam o dinheiro para uma noite longe de casa e que as passeiam num qualquer carro de alta cilindrada com promessas de uma vida melhor, àqueles que procuram fugir da rotina de um casamento pouco feliz e aceitam uma noite de amor momentâneo a troco de um valor monetário sem nunca esquecer aqueles que vêem nestas mulheres a única hipótese de alguma vez ser amado.

Estas mulheres dão tudo de si, onde passam por serem um bem dispensável, a mulher "única" e por vezes ser um ombro amigo. Tudo isto numa noite de "negócios", onde o sentimento puro tem pouco lugar.

A noite já se prepara para dar a vez à manhã de um novo dia. É tempo de fazer as contas e terminar o seu ganha pão. É hora de voltar à sua vida (algumas para aquela mais digna do que a noturna) e repousar como puder. 

Quando a noite voltar é sinal de mais episódios onde o amor acontece ... mas tem um preço.


Porto, 21 horas.

A cidade já estava adornada com as cores da noite que tinha chegado.
Quem geria as lojas de rua prontamente preparava tudo para mais um dia de trabalho terminado. Eu mesmo me encontrava ali, nos Clérigos, à espera do sorriso da namorada como quem carimba a frase "por hoje está feito".

Mas antes disso acontecer é fatídico e inevitável que repares nos pormenores e na magia que traz a noite a uma cidade como o Porto. Enquanto aguardava por ela, sentado no carro e com a janela meia aberta, não pude deixar de virar atenções para um encontro peculiar.

Ela vinha a descer a rua, cabelo arranjado, um simples vestido e com um casaco de malha a dar um toque à indumentária daquela noite, naquela fase da vida que não é adequado perguntar a idade. No rosto trazia a expressão de felicidade, suspeição e preocupação mas nada a impedia de descer a rua. Ele vinha a subir. Casaco de padrão de três botões e lenço na lapela, cabelo grisalho e sapato engraxado. Ostentava um sorriso à medida que se aproximava dela, destino cada vez mais real a cada passo.

Rapidamente ficaram cara a cara. Apesar de dois beijos ser o modo mais sociável de poder começar um qualquer encontro na rua era claro que isto não era uma coincidência. Deram a mão como quem pede uma dança e disseram boa noite.
Ela estava envergonhada como se voltasse à juventude e um qualquer cavalheiro a convidasse para sair, ele continuava sorridente e feliz, como se o Mundo lhe tivesse dado o melhor momento do seu dia. 

"Isto não está certo. Sabes que isto já não é para nós, é para os jovens", aclamou ela. Ele continuou a agarrar-lhe a mão e tentou sossegar o seu espírito dizendo: "Não estamos a cometer nenhum mal. Faremos um passeio nesta noite tão bonita, vai fazer-nos bem. Se é para os jovens hoje somos de novo jovens então".

Durante alguns minutos ela continuava apreensiva com a ideia, talvez só naquele momento estivesse a reflectir se o "sim" que tinha dado como resposta ao encontro fosse realmente a resposta certa. Ele nunca desertou, tentou entre toques suaves no seu braço e cabelo confortar a mulher que ele queria ter do seu lado para o tal passeio nocturno.
Depois dos esforços dele, a mulher aceitou. Agarrou-lhe no braço e desceu a rua com ele enquanto conversavam. 

Ficou-me apenas no imaginário como pode ter corrido o encontro: se ele escolheu a Ribeira como paisagem ou passaram a ponte para ver o Mosteiro da Serra do Pilar. Se nunca lhe largou a mão e ficou por aí ou se foi mais "atrevido" a tentar um beijo se o momento assim o pedisse.

Seja como for fiquei embevecido, porque melhor do que apregoar que o amor não tem idade, testemunha-lo tem realmente outro encanto.











Domingo, 15 de Outubro de 2017.
O que sobejamente podia ser apenas mais uma data foi um domingo que jamais Portugal vai esquecer.

Já tínhamos testemunhado incêndios de grande escala recentemente (Pedrogão Grande não dá para esquecer), mas nada nos podia preparar para um dia como este. O inferno surgiu em todo o país em forma de labaredas. Centenas de fogos assolaram milhares de hectares, estradas foram cortadas e casas destruídas durante todo o dia e noite acumulando feridos e mortos e instalando o caos.

Todos os recursos parecem poucos, todos os esforços perante as chamas surgem como escassos ao ver as perdas. Voltamos a virar-nos para aqueles heróis sem capa que apelidamos de bombeiros que com as suas armas lá vão travando alguns pontos complicados de zona ardida. Aliados a eles surgem os habitantes daqueles que sentem na pele a Natureza a levar o que tanto tempo chamaram de casa.

Enquanto escrevo este texto observo as imagens que surgem na televisão e ouço os testemunhos. A força do fogo não é misericordiosa e leva tudo no seu caminho e ver que a salvação recai em nós, "simples" humanos, contra a impetuosa natureza (fogo e vento) não é uma batalha justa.

Ver o vermelho vivo entre florestas escuras e perceber que a esta hora muitos lutam por sobreviver mais um dia é devastador e desolador. É uma guerra sem vencedor, sem prémio. Esse desaparece no final. Todos os apoios e preces estão com eles e para eles neste momento difícil.

Aguardamos com ansiedade que este tormento pare o mais rapidamente possível. Que estas longas horas de sofrimento (pessoal ou até mesmo alheio) passem para que se possa voltar a respirar melhor. Portugal não merece sentir tal Inferno.




Deixem que vos conte uma história. Talvez uma daquelas que acontece a todos uma vez na vida, daquelas que nos marcam para sempre. Mas esta é-me especial ...

Rapaz conhece rapariga e decidem combinar uma saída. Mesmo que para a ver tenha esperado algum tempo, ainda temendo aquela fatídica SMS do "desculpa hoje não vai dar", não arredou pé. Até que a viu. Munida de uma simplicidade como nunca viu ela lá se aproximou com um pedido de desculpas pronto por causa do atraso. Ele logo ali já não conseguia negar o efeito do sorriso bonito que ela exibia.

Seguiu-se um passeio com o Porto como paisagem e entre histórias, perguntas e sorrisos ele lá a desafiou a jantar com ele. Como final de dia ela sugeriu ir à praia, pedido que foi aceite prontamente. Não dá para colocar em palavras o que significou para ele ve-la em paz, deitada na areia apenas com o som do mar a acompanhar.

Ele, já ao seu lado, ganhou coragem e beijou-a. Instintivamente na sua cabeça pensou "é desta que levo uma chapada". Mas não. Após o beijo ela abriu os olhos, sorriu e replicou o gesto. Tudo começou nessa noite.

Seguiram-se momentos que jamais vão esquecer. Entre amigos, partilhando amizades e diversão em grupo, e mesmo sozinhos colecionando viagens e episódios só deles que o Mundo não imagina.
Dias, semanas, meses ... passaram a correr e o sentimento sempre foi o mesmo. Ela fa-lo sentir melhor, mais capaz. E esse sentimento de amor e conforto cria a motivação diária de fazer parte da felicidade dela, de a ver feliz com a vida.

Um ano passou e tudo se mantém. A vontade de a ter ao seu lado é cada vez maior, de a ver sorrir para ele, de a amar como ela merece, com o sentimento de dever cumprido sempre que a vê adormecer nos seus braços.

E tudo isto começou naquela noite, quando o rapaz ganhou coragem para um simples beijo. O melhor momento da sua vida depois de um dia que jamais vai esquecer.

A promessa que lhe foi feita é que ela não viu tudo o que ele lhe pode oferecer. Ainda há muito para lhe mostrar, para viver, juntos.

Je t'aime mon Amour

The night has standing tall. Late hours.
He left her safe in her home, gave her a goodnight kiss in a way that resemble a promise that tomorrow he would see her again and hold her once more.


The door closed and he was on his way home. City lights brightened the way between the dark that the night had as a ally. But despite that scenario he was happy.


He knew that for her he would do that walk home beside her forever, because she deserved his attention, his effort to make her happy. He knew that she liked every minute of that travel and loved every demonstration of affection that he could do for her happiness to be real.
The miles were the same, but the story of the walk was different every night.


That night he was seated in a bus stop. Saw one of that city lights up high and took a photo. Not because of the beauty of it, it's because every time that he will see that photo he will remember those nights and know that he meant something to someone else ... someone that he loves the same way she loved him.





Deixa que eu esteja aí, contigo.
Que eu te seduza como ninguém.
Que te conquiste todos os dias como nunca viste.

Deixa que seja alguém que não abdicas.
Aquele que te entende e procura, que vai querer saber como estás. Deixa que entre no teu mundo com um toque só meu para teu prazer.

Deixa que te mostre o que a vida tem para te dar, que te possa fazer redescobrir um Mundo que vai ser visto só com os nossos olhos, só para tu entenderes. Deixa que te abra a porta às tentações que tenho para te oferecer.

Deixa que caminhe ao teu lado e que possamos desbravar um trilho só nosso. Deixa que ouça o teu silêncio, que sinta os teus calafrios, que acalme os teus medos.

No fundo, apenas deixa.
Deixa que te ame como mereces.





Este é dos textos mais difíceis que farei na minha vida. Tudo porque é difícil dizer adeus a algo que me marcou tanto como a caminhada que vocês fizeram e na qual estive ao vosso lado.

Começou para mim no dia 27 de Agosto.
Fui seduzido com um projeto por um amigo, que acreditou que eu seria uma mais valia como vosso treinador e que, como adjunto, teria o efeito necessário para que fossem sempre melhores. Disse que sim, e desde aí nunca duvidei que vocês acabariam no topo da classificação como campeões.

Mais do que criar jogadores e cultura de jogo fizemos para que vocês pudessem moldar a vossa personalidade, com as vossas perguntas, dúvidas e comportamentos. Criamos um grupo unido, alegre, irreverente (ou não fossem miúdos) mas também com a vontade de vencer. Porque isso é formar: moldar para crescer e vencer.

Nunca duvidamos de vocês, porque vocês nunca duvidaram de nós. Quando o mundo apresentava problemas vocês mostravam as soluções dentro de campo. Sentiram a vontade de vencer, quiseram isto mais do que qualquer outros que nos defrontaram. Apesar de tenra idade vocês foram guerreiros e nós generais de uma tropa cheia de talento. O resultado está à vista e vocês são os protagonistas, parabéns pelo campeonato.

Aprendi muito com vocês. Tenho comigo uma camisola assinada por todos no meu aniversário (com uma vitória sobre o Dragon Force nesse mesmo dia) que irei estimar para sempre. Criei palestras para vocês, treinos específicos para que melhorassem a cada sessão e partilhei uma viagem de Natal que decerto ninguém vai esquecer. Foram parte da minha realidade, sofri como um louco a cada jogo, lance e jogada; vibrei com cada golo e vitória que conquistavam. Nesta aventura cheguei a ser "insurrecto" mas também apelidado por adversários como o "melhor adjunto do campeonato". Medalhas que se levam nesta vida, mas acima delas todas é a sensação que tinham quando me chamavam "mister" como acto de respeito.

Como vos disse desde o primeiro dia vocês são os melhores do Mundo e se me posso considerar campeão foi porque vocês tornaram isso possível. Acolheram-me como um de vocês e isso deixa-me orgulhoso, acredito que seja sinal que fiz um bom trabalho.

Não tenho dúvidas que deram tudo o que tinham este ano, nada temos para vos apontar. Não ouviram outras vozes sem ser as nossas e se houve tropeções aí estamos para assumir alguma falha. Cumpriram, desde aquele que fez todos os minutos, até àquele que ajudava a equipa entre espaços. Todos foram importantes e merecem as faixas que ganharam.

Eis que chega ao fim da época. Apesar de ser uma decisão que alguns já tinham conhecimento deixei que isso não chegasse a vocês para que o foco não se perdesse com a notícia. Acredito que cumpri com a palavra com o meu mister e amigo e que o meu trabalho foi bem feito. Tenho de agradecer ao Nun'Alvares a possibilidade de ter feito parte da equipa técnica dos infantis e com isso ter trabalhado e conhecido pessoas que vou estimar mesmo estando longe (Contrato e Nandinho obrigado me tornarem um dos vossos). A cortina caiu e com ela despeço-me do cargo e do clube que me abriu a porta.

O futuro não me diz se o futebol está no horizonte, mas o importante é sair de cabeça erguida e seguir em frente.

Foi uma honra ser vosso treinador.

Obrigado, por tudo.
Até sempre maltinha.