por Daniel André Teixeira'





O frio contundente e o vento forte não impediam a vontade daquela decidida criança.
Num ápice procurou o casaco quente, as luvas e o gorro e com a mesma velocidade correu como podia e esperou à frente da porta como quem pressiona os pais: Era noite de ver a "árvore grande" de Natal.


Em casa tudo já chamava a época natalícia. Os corredores estavam apetrechados de pormenores, as meias já estavam penduradas acima da lareira e as mesas já tinham o seu toque aguardando a noite de Natal. Até a árvore já estava montada ... mas mesmo todo aquele reluzir entre o papel de embrulho dos presentes já colocados na base não fazia aquela criança arredar pé e querer ver tal símbolo nas ruas da cidade.

De modo frenético lá ia pelos passeios a puxar os pais pela mão, como quem receia que tal espectáculo terminasse sem que ele o pudesse contemplar. Acelerando a cada passo ia focado na vontade de ser maravilhado. O reflexo das luzes nos prédios adjacentes à medida que se aproximava só fazia aumentar a ansiosidade.

E de repente parou. Ali estava ela. Um misto de luzes diversas que se fundiam entre as variadas cores que, como se uma sinfonia se tratasse, apareciam quando outras se apagavam, transmitindo uma magia única. Prontamente o pai pegou-o ao colo para que ele pudesse olhar mais além e contemplar a estrela no topo, que brilhava ciente da sua prepotência. 

Entre a multidão embevecida pela atração não faltaram aqueles que não perdiam a chance para filmar ou fotografar, mas estavam também aqueles que, agarrados aos seus, apenas olhavam silenciosos aquele momento que traduzia o Natal: brilho, magia e união. Mesmo que naquela noite o frio teimasse em querer reinar, para muitos era apenas um convidado indesejado naquele momento.


Boquiaberto permaneceu, apenas parando para sorrir para os pais enquanto apontava incessantemente e batia palmas e dizia "árvore grande" com a maior alegria do Mundo. Era uma criança feliz e naquele momento o Natal trazia-lhe uma magia sem igual. Mesmo que tal espectáculo pudesse estar replicado no conforto de casa era ali, em plena cidade, que sentia o poder e a aura natalícia.


Mas o tempo corria e as horas passavam, era momento de voltar para casa. Ao colo do pai permaneceu no regresso, com os olhos semi cerrados de cansaço enquanto a árvore se desvanecia ao longe. Pouco tempo depois adormeceu no banco de trás do carro mantendo ainda um singelo sorriso.

A magia do Natal apareceu àquele menino em forma de "árvore grande". 
Que essa magia nunca se perca ao longo dos anos.


FELIZ NATAL.



Era um manto branco que dava a cor à cidade enquanto o vento espalhava o frio de Inverno.

Entre as ocupadas e preenchidas ruas naquela sempre mágica quadra lá se via o quente que emanava dos Glühwein e dos Orangenpunsch que os cafés serviam para aquecer corpo e coração doa transeuntes. Havia o rodopio normal no Sacher entre saídas e entradas a contrastar com a calmaria e aparente tranquilidade de um sempre clássico Café Mozart.

Nem mesmo a temperatura quase negativa tira o brilho singelo de Viena.
A neve que a veste só lhe dá mais encanto e veste paisagens entre o pitoresco e o moderno que a cidade impõe. Lá se aventuram os fotógrafos para uma foto digna de postal, aquela que melhor vai representar aquelas horas de caminhada ao frio. Seja nos jardins, seja no poder histórico ou até mesmo para se perderem nos mercados de Natal. Tudo vai dando a sua pitada de sabor e interesse em cada esquina da cidade. Quando a noite cai lá se vão vendo alguns burgueses vestidos a rigor para verem a arte ser criada na Ópera de Viena e assim fugirem também à noite fria enquanto se deixam levar pelo espectáculo.

Viena, como quem chama o Natal até si, assim permanece com o seu charme entre o poder do Inverno que se abate sobre ela. Consegue ser beleza entre o vendaval, cor reluzente entre o branco que cai.






Preciso de outra história, outro conteúdo entre as capa e a contracapa desta vida para a minha aborrecida existência.

Neste mundo já nada me encanta, entusiasma ou cativa.
Não há fenómeno soberbo, nem sedução arrebatadora.
Não há canção que chame, não há paisagem que inspire, não há pessoa que me aproxime.

Tudo tornou-se mundano, chato, sem vida ou essência.
Parecemos concordar na aceitação que vivemos para morrer e não vemos mal nesse veneno que condena a sociedade. Seguimos vivendo, sem que a vida nos dê as cores que a pintam verdadeiramente..

Não acredito em promessas, em política, em farsas ou versos escritos com poesia vazia.
Não me vendo nem revejo nos valores que se levantam, não sou símbolo nem imagem, sou no anonimato mais um que não se insurge. 

Sou mais um, só mais uma sombra ou figurante nesta história de livro sem graça.

Se o Mundo pode mudar? Não sei, mas há quem já não queira ter a força de o mudar ou de o ver transformar. É assim que me apresento e se outra história não se cruzar o no meu caminho sei bem qual será o meu fim ... e a escuridão nunca fez tanto sentido.





"A senhora pode esclarecer o Tribunal e explicar o que se passou naquela noite?"

A pergunta era clara e direccionada a ela.
Porém nunca a resposta foi tão complexa e complicada de criar ou exprimir.

A fatídica noite começou como sendo uma das demais rotineiras desta vida.
Ela seguiu para casa após um café. Sozinha, serena, simplesmente a fazer o caminho para poder finalmente descansar no seu lar. 
Apanhou o comboio, o último daquele dia. Seguiam nele mais quatro pessoas, desconhecidas umas das outras, apenas à espera da sua estação de saída. Entre solavancos a viagem continuava, mas iria ter um rumo inesperado.

 Eis que o comboio pára e ele entra. 
Mudo, olhar frio e emsamblante carregado de quem se calhar tinha afogado as mágoas num final de uma garrafa. Lentamente encosta-se a um dos postes da carruagem. Perante os solavancos do velho comboio nocturno eis que acidentalmente bate num dos passageiros que prontamente lhe berra "Vê se te seguras seu bêbado!! Seu vagabundo". O olhar frio virou de raiva e sem contemplação saca uma faca do casaco e ataca o passageiro veemente com várias facadas no peito. Perante o sangue desvariado e os berros dos outros passageiros ele, sedento e cego, procura-os e volta a disferir facadas constantes sem dó da dor que provocava. Quatro mortes sem dó nem piedade, sem razão ou argumento.

Ensaguentado procura mais vítimas e eis que a encontra. Porém ela não gritou. Apenas ofegante com toda a situação encontrava-se abaixada e abrigada entre bancos de comboio na esperança de aquela não ser a sua última noite. Eis que o olha nos olhos e, quem sabe por magia, ela não viu o monstro que esfaqueou quatro almas em poucos minutos; Ele, mesmo empenhando alta a faca ensaguentada, não a atacou. Apenas respirava a alto ritmo e fulgor como se a mente não deixasse que a faca magoasse aquela mulher.

O entrelaçar de olhar continuou intenso. Entre o silêncio ela suavemente colocou a sua mão na cara dele, mesmo enquanto ele não arredava de ter a faca em riste. Ela viu algo ali, um sentimento que superou o medo e o horror. Lentamente chegou a ele de tal modo ternurento e próximo que ele acaba por largar a faca e ficou sem reação perante tal gesto. Com lágrimas nos olhos a escorrer na cara cheia de sangue aproveitou a paragem do comboio e saiu a correr da carruagem. Ela manteve-se estática e sem reacção. 

Mais tarde ele foi encontrado por um agente que, ao ver todo aquele vermelho "pintado" nas roupas dele o deteve. Confessou o crime quase sem pressão e mais tarde encontraram-na para ela poder prestar declarações sobre o que se tinha passado. E ali estavam de novo no mesmo lugar, desta vez sob o olhar atento da justiça.

Enquanto testemunhava tentava não olhar para ele, com receio de magoa-lo como quem é a força final que o vai condenar. A mulher que amou o monstro estava ali, a dizer ao mundo que aquele homem assassinou quatro pessoas, mas não conseguia dizer que o ama desde essa noite.

Sai em lágrimas do tribunal por saber que ele seria condenado sem contemplação ... e sem nunca lhe poder dizer o que sente. Ela viu o horror, mas sem explicação amou a criatura que o fez.





O mundo é feito dos contrastes inegáveis e flagrantes.
Poetizando e suavizando com bonitas palavras podemos afirmar que é um mundo de luas, de diferenças, de toques e retoques, de forças e fraquezas, enfim como nós mundanos apelidamos de "altos e baixos".

Uns possuem o ouro desta vida, o facilitismo, as conquistas deste mundo à mão de um simples desejo ou prazer como se a realidade utópica fosse servida numa bandeja de prata de um refinado restaurante. Não há problema sem solução, não há obstáculos inconvenientes para as vitórias pessoais. A vida presenteou-os com essa dádiva da despreocupação com o alheio, onde só a sua zona de conforto é fulcral para a sobrevivência. Boas roupas, casa com ostentação e luxo, carro a estrear, ao seu lado um conjugue que foi bradado com a mesma dádiva. Um mundo dentro de um outro que apenas serve de paisagem adicional a um estilo de vida que cria na sociedade uma elite de "Reis". Não são intocáveis, mas estão no confortável camarote deste teatro onde a peça principal é a vida.

Outros lutam por cada hora e por cada luxo que esta vida lhes lembre de proporcionar.
Esses sentem cada capricho, cada frio na espinha, cada golpe que a sociedade se lhes apronta. O seu micro mundo está subjugado na vida mundana dos demais. O infortúnio em pessoa, a figura de alguém que parece ter sido esquecido e ostracizado num mundo que tanto se apregoa que se quer justo e equilibrado. Os seus esforços são sucessivos, a sua luta é interminável. Cada canto pode ser uma "casa", cada resto pode ser a "refeição", cada trapo é o seus vestir ... São os "Vagabundos", aqueles que no mesmo teatro são os figurantes sem importância, triste e sem valor real para o desenrolar da história que os "Reis" em cima sentados aplaudem sempre a sorrir e a festejar.

É o contraste de um Mundo, facilmente replicado na nossa sociedade estejamos em que lugar for.
Porque esta peça de teatro nunca acaba, apenas tem maneiras de mudar a história.




Última exibição daquela sessão circense.
O público vibra com o espectáculo, não há uma alma que não sorria com o entretenimento servido naquela noite. Entre adereços e brincadeiras o público responde com gargalhadas que se espalham na tenda do Circo. É em apoteose que o palhaço progride com o seu momento, onde o seu ridículo é aclamado como uma obra de arte que merece aplausos na vénia final.
É assim mais um serão do feliz palhaço de circo.

Mas eis que a cortina cai e tudo muda.
As luzes do espectáculo se desligam e o público volta para suas casas. O último protagonista retira-se e volta para o seu camarim. A cara de alegria do palhaço que minutos antes divertia a multidão muda de semblante. Enquanto limpa a cara retirando a maquilhagem com um pano velho e molhado não consegue conter o sofrimento, o desgaste, a fadiga de quem parece que a vida e a felicidade que podia vir dela nunca lhe foi dada. O seu camarim desarrumado e carecido de ostentação pessoal é a imagem de alguém quebrado pela rotina. Procura numa fogaz bebida e numa mão cheia de comprimidos um possível escape enquanto tenta tranquilizar uma cabeça já pouco consciente da realidade e que anseia por repouso. Fecha os olhos e tenta procurar na sua mente um lugar melhor, limpo, que possa ser mais apaziguador para a sua alma e que o faça sobreviver mais um dia da sua vida.

De nada suspeitam aqueles que tranquilamente voltaram a suas casas depois do espectáculo. Com elas vai a imagem de um palhaço que protagonizou momentos de gargalhada e boa disposição em meia dúzia de minutos que alegrou assim a sua noite. Jamais poderiam antecipar que o mesmo corpo que aguentou quedas hilariantes e cremes de tarte na cara para seu prazer é o mesmo que agora sofre, sem forças, calado, entre os seus comprimidos e bebida barata. Muitos falam da "magia do circo", mas ele há muito que deixou de sentir essa magia.

Como é possível que a mesma pessoa que sofre diariamente consiga, apenas escudado com roupas extravagantes e jocosas e maquilhagem berrante, ser o foco de uma alegria quase inesgotável aparecendo aos espectadores com o propósito singelo e solene de as fazer rir para poder ser feliz também? Como é possível viver com a alegria e a tristeza na mesma pessoa, na mesma consciência?
Até onde se pode manter esse equilíbrio sem deixar que a força má vença o duelo?


O Mundo tem destes contrastes, neste circo que é a vida.





O meu turno de hoje vai a meio, mas é como se o dia fosse sempre o mesmo. 
Muitos entram e saem deste bar. Sejam "zé ninguém" ou até alguns daqueles que aparecem nos media destes dias aqui todos são iguais aos seus pares. Sentam-se, consomem do mais rasca dos licores ao mais fino dos sabores de garrafa com referência cara e assim se desligam do Mundo.

É sempre um entra e sai, nem sempre com a maior das classes, mas menos para um senhor que só vê a rua quando estas portas se fecham. No sítio do costume, sempre ao canto do balcão, ele ali estava com a garrafa a poucos centímetros do seu alcance. Não lhe saem muitas palavras da boca, só me chegava a ele quando o seu braço se levantava como quem pede uma outra garrafa para substituir aquela que está vazia. Nem mesmo quando limpava o balcão ele cria alguma ligação humana. É apenas um corpo que se sustenta de goles constantes de bebida para poder prevalecer neste Mundo.

A rotina dele era tal que passava como invisível para todos que frequentam o bar ... e ele não fez questão de mudar o cenário. Ficava muitas vezes a pensar se ele conseguia ver algo de positivo no fundo de cada garrafa que consumia. Se alguma luz ou sabedoria vinha dos goles profundos que dava. Do modo como deixava resignado a nota com que pagava (sem pedir troco) no balcao e voltava a ajeitar a gravata enquanto saía percebia que todo aquele escape "terapêutico" alcoólico de nada serviu. 

Hoje, num momento mais parado, limpei o balcão e peguei no jornal. Ele estava lá ... dado como morto. Suicidou-se durante a madrugada deixando junto do seu corpo uma carta de despedida e desespero pela vida pobre e sem alegria que deixava. 

Todos os dia o via, todos os dias passava ao lado da sociedade.
Agora partiu, sem brilho e sem ninguém realmente saber como se sentia. 
Fim da linha, como uma garrafa que terminou.


O sol pode raiar mais um dia, mas a escuridão é sempre o seu melhor parceiro.
Longe das luzes, do revelador, do brilho de mais um dia ela vive ... ou sobrevive.

O nome não importa, não é relevante para a história. Ela é mais uma com o destino infortuno de viver uma vida a dois em sofrimento constante, sob o abuso de alguém que se considera o alfa da casa e que a cada acto violento que cria acredita que demonstra o seu domínio.

O homem que outrora amou agora é um monstro.
Um figura que só a vê como um alvo onde descarga todas as frustrações que o mundo lhe dá, e quando não é assim castiga-a com violência e sem dó quando vê "erros" na sua mulher. Aos olhos dele a imperfeição merece castigo e ela não se rebelia perante tal punição.

Anos constantes de abuso sem escrúpulos fizeram com que ela perdesse a noção do que pode ser a felicidade, do poder sorrir ao espelho, do poder caminhar livre como é. Em vez de uma vida feliz abraçou esta violência e sofrimento como algo normal, do qual não consegue fugir, vendo como presente inevitável. A sua vida é isto, e ela já sem forças para mudar.
Longe vai a mulher que já foi, agora é só um corpo sem alma nem vontade de saber como viver sem sem maltratada.

Diariamente ela lambe as suas feridas quando se vê sozinha. Tenta com a mais banal maquilhagem esconder o testemunho de violência da noite anterior, a rotina diária para poder enfrentar as horas que ainda estão para vir ... todas as forças são necessárias para enfrentar mais um dia de tormento.

Todos os dias esta é a história de alguma mulher. Todos os dias esta é a sua vida.
Temos de ser capazes de acabar com esta crueldade e poder mostrar a estas mulheres que o sofrimento que passam não tem de ser normal ou rotineiro.
STOP À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA.


A porta fechou.
Aquela pessoa saiu, não só de uma casa que outrora foi tecto de uma vida a dois mas também sai da vida daquela que fica.

O som da porta é ensurdecedor, difícil de evitar o seu eco ao longo das horas e momentos seguintes. É frio, sem sentimento, ignorando todos os outros momentos de luz e alegria que pairava noutras alturas.

O que fica do que passa é a força do que sobrevive. A alma de alguém que vê sair da sua vida uma pessoa especial é posta à prova pela vida. "Como viver sem o 'amanhã' que pensamos juntos?". Um caminho custoso, que nos faz questionar tudo o que somos e como nos comportamos. Minutos que parecem horas, horas que parecem dias.

É nessa altura que ha-que ser maior que o Mundo. É tempo de olhar para dentro, curar o que foi ferido e olhar o horizonte com a garra de quem o vai conquistar. O tal "Amanhã" pode não ser o planeado, mas terá que ser ainda melhor porque tu vais ainda cria-lo. 

Só assim as nuvens desaparecerem, só assim a chuva pára de cair. Evitando os clichês da vida, só se pode mesmo procurar o que de melhor ela tem. Portanto sorri, sê feliz e deixa-te encantar, só assim vais sobreviver sempre que as portas fechem e com isso te ameacem magoar com essa roda viva a que chamamos vida.

O amanhã começa contigo, sempre.



A noite caía naquela cidadela americana enquanto a chuva teimava em reinar. Ele, totalmente ensopado e ainda a ajeitar uma camisa mal passada por entre uma gravata mal amarrada lá se dirigia para a sua mesa usual. O ambiente suave é servido desde logo pela JukeBox que, pelo simples honorário de uma moeda, proporciona Blues e Jazz entre a agulha e o vinil que só por vezes se descuida e risca.

Ela chega. Mal sabe ela que é por ela, com a sua simplicidade munida de um avental sempre sujo e sorriso que não dá para ser indiferente, que ele saí do trabalho e invés de retornar a casa vai sempre aquele cantinho jantar. 

Ele lá pede aquela carne e batatas que só se pode dizer que se assemelha a uma refeição bem confeccionada e pede a sua cerveja, a sua fome pouco ou nada pelo prato. Enquanto brinca com a comida com o garfo e valentemente tenta colocar à boca não deixa que ela saia de vista. Só o facto de a ver tranquilamente e a rir enquanto limpa o balcão já o fazia quase esquecer onde estava.

Enquanto a JukeBox tocava "Georgia on my Mind" ou o "You don't know me" ele dava voltas à cabeça de como falar com ela de um modo mais especial e não apenas o "sim, o jantar está óptimo como sempre" sempre que ela passava pela sua mesa.

As horas passavam e o tempo de fecho avizinhava-se, ele estava a ficar sem tempo.  Já só restava ele e ela naquele singelo restaurante. Eis que num momento de loucura instantânea ele se levanta da mesa e se dirige à JukeBox. Com uma certeza que nunca sentiu sacou de uma moeda e escolheu. Seria Ray Charles, "That's All". 

Suavemente se dirigiu a ela e pediu que dançasse com ela. Ao ouvido confessou "é por ti que estou aqui sempre, acho que já nem consigo mastigar mais aquele bife". Ambos sorriram e enquanto Ray Charles os embalava eles estavam sozinhos no Mundo.
A música continuou e ele lá acompanharam até ao fim, até que as moedas acabassem, mesmo que a JukeBox teimasse em desafinar.

Chovia naquela simples cidadela americana, mas dentro daquele "Dinner" não havia mais nada a não ser música.




Mulher não é género, é estatuto.

É força da Natureza.

É carácter inquestionável.

É beleza única e singular.

É sedução e risco.

É causa e consequência.

Mulher é poder, poder esse sentido todos os dias na nossa sociedade.


O poder está em todas, todas aquelas que se apelidam de mulheres independentemente do que a sociedade lhes trouxe.

Falo das influencers que servem de modelo nas redes sociais para quem as seguem, das mulheres poderosas nos seus empregos e casas que se mostram como fonte de inspiração para o Mundo e para as suas pares (e educam os seus filhos entre Luz e Trevas); das que todos os dias tentam provar o seu valor para que o mérito seja a sua maior medalha na procura da felicidade sem nunca esquecer as mulheres que a sociedade parece esquecer, martirizar e escravizar. Aquelas que o #metoo simboliza e que serve de ténue escudo de defesa e voz perante o sofrimento que a vida lhe traz também tem, mesmo em silencio, uma energia interior que lhes concede um respeito maior.

Das louvadas e invejadas até às esquecidas e usadas ... todas são "Mulher", com a essência e personalidade que emana esse estatuto.


Todos nós temos mulheres nas nossas vidas que nos marcam ou marcaram e por isso devemos louvar o que são e como são neste nosso Mundo. O dia apenas serve para recordar que elas são mais do que uma imagem. Portanto mima como melhor souberes: com aquela prenda que sabes que ela vai gostar mesmo que seja simbólica, com aquela SMS só a recordar durante o dia do quanto gostas dela e a queres na tua vida ou o simples mas poderoso "amo-te muito" quando estiveres a sair de casa ... mas não o faças só hoje.

Que o Mundo prossiga em ter mulheres fortes e com personalidade, nós como homens só temos a ganhar com isso.

Feliz Dia da Mulher.