por Daniel André Teixeira'



O nome foi esquecido, por ele e pela sociedade.
Mais depressa é reconhecido por um qualquer serial number ou por fotos de reconhecimento num qualquer relatório. É mais um, inocente como muitos que são abandonados à sorte de uma vida sem a protecção de alguém que dignamente se pode apelidar de pais.

Órfãos de desígnio, muitos também de alma, tentam suportar esta vida entre paredes de orfanato resgatados de uma infância de maus tratos e podridão humana ... no entanto este teve um vislumbre de uma realidade melhor.

Numa certa tarde um casal pediu para adopta-lo. Era a chance de um recomeço. Prontamente trataram de o lavar e preparar uma roupa apresentável para seguir viagem com o casal. Não soltou qualquer palavra nem quando foi apresentado nem durante a viagem, qual mudo num mundo ruidoso. Apesar das tentativas para que o jovem reagisse tudo foi em vão, lá seguiu de olhar vazio mirando a paisagem que passava no seu vidro.
Entrou naquele que seria o seu quarto. Aí, sempre de maneira resguardada e tímida, lá ia pegando nos brinquedos deixados no chão pelo casal numa tentativa de integrar o jovem rapaz. Mas nada o fazia falar nem sorrir. O cenário à mesa não mudou de timbre e todos jantaram sem que o jovem larga-se uma palavra, apenas acenos com a cabeça.

Ao cair da noite eis que surge o pesadelo.
"Que ideia foi a tua de traze-lo?? Ele vem destruído, é esta a ideia de filho que queres mostrar? Estás satisfeita com a escolha, um rapaz que não fala, não reage??". Em plena sala ouve-se o discutir enquanto no andar de cima o pobre rapaz ouve tudo. A mulher por seu lado chora compulsivamente enquanto ouve o marido martirizar a esposa pela escolha. Ouvem-se copos a partir e portas a bater e um silêncio assombroso cai até ao final da noite. O rapaz sabe que a vida o trouxe de novo para um lar que não o vai cuidar e que o vai descartar de um futuro melhor.

Acorda cedo e ao descer as escadas o seu "pai" estava à porta. Depressa percebeu pela mala feita (que nunca foi desfeita) qual seria o destino da viagem. Era tempo de voltar ao orfanato. Já no carro, cabisbaixo e com lágrimas nos olhos, continuava calado enquanto a esposa tentava impedir o marido de devolver aquele infeliz rapaz. Ao chegar era bem audível os berros do homem para o director do orfanato como se o jovem fosse um qualquer bem que foi vendido com defeito e que por isso tinha de ser devolvido à loja. O lado desumano e selvagem foi patente, o homem não queria um filho assim, tudo enquanto o rapaz era levado para a sala comum. 

A senhora por seu lado não conseguiu ve-lo ser levado sem antes o abraçar. Falou-lhe ao ouvido dizendo "desculpa não termos sido a família que devias ter por direito" enquanto chorava no seu ombro. As portas de acesso à sala comum fecharam e ele lá estava com os outros meninos.
 
Foi sonho que virou pesadelo vivido em algumas horas. Fica a esperança no ar que no futuro ele e tantos outros tenham a chance de ter uma verdadeira família e assim serem felizes.

Tudo o que foi escrito em cima não é baseado numa história verídica, mas bem podia ser.