por Daniel André Teixeira'


Quero ser o teu ódio, o pior que já tiveste.
O teu lado mais negro, o lugar mais obscuro onde só tu sabes como chegar.

Quero ser a tua imperfeição, a tua cólera, o teu rasgo inconstante, um pedaço de estilhaços partidos no chão.

Quero ser a tua perdição, o teu pensamento mais reles, quero ser papel inútil e sem nexo. O pesadelo que a tua mente tende a recriar.

O teu toque errante, o teu rol de erros na vida. A prova que errar é lição que a vida traz como recordação, o alvo de todas as tuas repreensões.

Quero ser tudo isso, mesmo que me doa, mesmo que me condene. Aceito o fardo de ser alguém com todos os defeitos, a personagem mais descabida no teu viver.

Assinarei sempre por baixo todas estas falhas, desde que me ames e não me esqueças por ser mesmo assim. Fica comigo e serás aquilo que sempre foste, a perfeição.
Eu assumo o que assino em cima.


E se pudesses desligar a máquina que és?
Dar um tempo sem que tocasses no ritmo, na rotina, nas decisões e imperfeições da tua vida. Uma pausa na tua realidade.

Com o toque num botão podias parar o tempo, respirar e procurar a solução. O mundo parava de girar, hibernavas para poderes trocar o choro por um sorriso, a travessia no deserto por um “walking on sunshine”. Já não tinhas a aflição de uma rotina e passavas a ter o silêncio para reflectir as acções que deixam a cabeça em indefinições constantes.
Tinhas a oportunidade de poderes dar descanso ao teu poderio neste Mundo. Desligavas a torre que alimenta tudo o que és e recarregavas a energia que destilas e que faz de ti algo único em cada acontecimento.

No entanto não existe este escape. Não estamos feitos para essas pausas no tempo. Por isso desligamos de outro modo, de forma mais intimista. Saímos do Mundo sem nunca o abandonar, seja nas quatro paredes do nosso quarto, seja nas horas que passamos com os amigos e que parecem algo à parte, naqueles momentos a dois que congelam o tempo, nas viagens que fazes questão de fazer ou até mesmo quando dás tudo o que tens nos teus hobbies.

É importante que desligues a máquina. Para não a sobrecarregar, para que ela não sobreaqueça, te faça falhar ou tornar-te mais lento. Para que também possas respirar e para que o mundo veja sempre uma versão mais pronta de ti, mais eficaz, mais fiel ao que podes dar ao Mundo.


Desliga-te, para que sejas ainda melhor quando te voltares a ligar.


Começa sempre com uma página em branco.

O propósito é dar-lhe vida, um sentido, enchendo-a daquelas pequenas luzes que apelidamos de palavras.

Aí surge a responsabilidade. Como fazê-lo? Sendo ágil, astuto, feroz, cabal ou apenas descontraído com as letras? Escrever algo está longe de ser fácil e passível de ser rápido.

Nesse pedaço de papel podemos ser veículo de emoções, peças de teatro que a vida nos espelha, retrato de testemunhos ou criadores de fantasias e utopias que nos enchem a mente.

Podemos ter a arte e o engenho ou deixar a desarrumação das ideias tomar conta das letras. Temos o luxo de transmitir alegria e emoção, ou transparecer a tristeza de quem vê na escrita o modo de deixar sair a mágoa.

Tudo isto num pedaço de papel, que começou em branco.


Vamos ter muitos momentos.

De aconchego e sossego, de calor e fulgor.

Seremos um só enquanto dois corpos, seremos algo intenso num momento só nosso.
Seremos prova de entrega mútua, a vontade inscrita em cada gota de suor ou toque.
Seremos descanso após a batalha da rotina, seremos companhia de arraso da movimentada rotina. Vamos sendo o porto de abrigo um do outro num relance que o mundo desconhece que temos.

Somos sonho acordado, real e palpável.

Criamos o espaço de tempo que faz tudo o resto parar. Nada mais importa senão ter-te ao meu lado, a repousar todo o teu esplendor natural.

Vejo-te como tu és, simples, entre o calmo fechar de olhos de quem dorme e aquele olhar entre a pálpebra como quem vigia se saí do teu lado.

Tornas este momento perfeito, tudo o que podia pedir dele. Ter-te comigo assim faz todo o sentido, faz querer ser mais, faz-me perceber que assim estou completo.

Sei que terás de sair, abandonar-me depois deste nosso ensejo, mas peço-te apenas mais uma coisa antes de te afastares:

Beija-me antes de saíres e serei teu para sempre.



O mundo tem o condão de retocar certas realidades. Não pára de girar e de criar novos elementos que fazem mudar a visão de coisas que estão connosco desde que nos lembramos.

O futebol é um exemplo. Outrora olhávamos para o futebol como uma essência que não seria possível retirar. Era algo simples mas bonito, admirado por massas e alvo de atenção pela magia que trazia. Era ciência entre linhas, com mágicos a criar tácticas à frente de um banco e uns deuses de chuteiras calçadas a deslumbrar com uma bola nos pés. Cérebros, guerreiros e fantasistas: A alma de um futebol de perdição.

A realidade agora é outra. As fartas cabeleiras foram trocadas por cortes mais refinados, a bola de trapos é agora mais aerodinâmica e com outra fibra, os equipamentos agora são menos garridos e fora de tamanho onde as marcas apostam tudo para se mostrarem dentro de campo e apelar ao conforto e os génios do banco agora já vestem com outra classe onde até o mais básico fato de treino pode equipar a um fato vistoso do outro lado. Se isto é errado? Não, não é isto que condena o espectáculo na sua base, mas sim o que vigora atrás disto, os seus bastidores.

O futebol agora é mais apelativo atrás da cortina, nos gabinetes e reuniões. São senhores que pouco têm a ver com o desporto que estão detrás de jogatanas financeiras, que movem jogadores com valores astronómicos para seu interesse pessoal mesmo que esses jogadores não sejam uma mais valia para o destino traçado, que criam eventos megalómanos sem que isso tenha apreço para o desporto, exercem o seu poder para que sejam tomadas decisões como desejam, que desviam fundos para as suas contas desrespeitando toda uma história que o futebol criou.

Vivemos num tempo em que a alegria e o talento de Cristiano Ronaldo e Lionel Messi seguem as pisadas de lendas de outrora que encantavam bancadas, em que Mourinho, Guardiola e Klopp são cérebros como senhores de outras décadas, em que equipas como o Barcelona faz parecer o futebol em algo geométrico e fácil de executar.
Infelizmente é o mesmo tempo em que escândalos de corrupção fazem capas mais depressa, onde os órgãos máximos não são de confiar, onde há suspeição em convocatórias, nomeações e eventos criando uma nuvem cinzenta sobre um desporto onde a essência bastava para ser notícia.


Não há solução aparente e rápida para este cancro do futebol. Dizem as mentes brilhantes que devemos focar-nos nos pontos bonitos e altos que o futebol nos traz como aquele penalti defendido e cria desespero e apoteose ao mesmo tempo, aquele frio na barriga ao ver a equipa que apoiamos a entrar em campo … talvez seja a solução para tapar alguns olhos, mas no fundo todos queremos é aquele futebol de perdição que fez criar esta nossa paixão por este desporto.