por Daniel André Teixeira'

Futebol de Perdição

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O mundo tem o condão de retocar certas realidades. Não pára de girar e de criar novos elementos que fazem mudar a visão de coisas que estão connosco desde que nos lembramos.

O futebol é um exemplo. Outrora olhávamos para o futebol como uma essência que não seria possível retirar. Era algo simples mas bonito, admirado por massas e alvo de atenção pela magia que trazia. Era ciência entre linhas, com mágicos a criar tácticas à frente de um banco e uns deuses de chuteiras calçadas a deslumbrar com uma bola nos pés. Cérebros, guerreiros e fantasistas: A alma de um futebol de perdição.

A realidade agora é outra. As fartas cabeleiras foram trocadas por cortes mais refinados, a bola de trapos é agora mais aerodinâmica e com outra fibra, os equipamentos agora são menos garridos e fora de tamanho onde as marcas apostam tudo para se mostrarem dentro de campo e apelar ao conforto e os génios do banco agora já vestem com outra classe onde até o mais básico fato de treino pode equipar a um fato vistoso do outro lado. Se isto é errado? Não, não é isto que condena o espectáculo na sua base, mas sim o que vigora atrás disto, os seus bastidores.

O futebol agora é mais apelativo atrás da cortina, nos gabinetes e reuniões. São senhores que pouco têm a ver com o desporto que estão detrás de jogatanas financeiras, que movem jogadores com valores astronómicos para seu interesse pessoal mesmo que esses jogadores não sejam uma mais valia para o destino traçado, que criam eventos megalómanos sem que isso tenha apreço para o desporto, exercem o seu poder para que sejam tomadas decisões como desejam, que desviam fundos para as suas contas desrespeitando toda uma história que o futebol criou.

Vivemos num tempo em que a alegria e o talento de Cristiano Ronaldo e Lionel Messi seguem as pisadas de lendas de outrora que encantavam bancadas, em que Mourinho, Guardiola e Klopp são cérebros como senhores de outras décadas, em que equipas como o Barcelona faz parecer o futebol em algo geométrico e fácil de executar.
Infelizmente é o mesmo tempo em que escândalos de corrupção fazem capas mais depressa, onde os órgãos máximos não são de confiar, onde há suspeição em convocatórias, nomeações e eventos criando uma nuvem cinzenta sobre um desporto onde a essência bastava para ser notícia.


Não há solução aparente e rápida para este cancro do futebol. Dizem as mentes brilhantes que devemos focar-nos nos pontos bonitos e altos que o futebol nos traz como aquele penalti defendido e cria desespero e apoteose ao mesmo tempo, aquele frio na barriga ao ver a equipa que apoiamos a entrar em campo … talvez seja a solução para tapar alguns olhos, mas no fundo todos queremos é aquele futebol de perdição que fez criar esta nossa paixão por este desporto.

1 comentário:

  1. Quanto mais lucrativo o ramo, mais expectavel é a presenca de interesses que o explorem. Porque remar contra a corrente quando se pode apenas desviar o curso que toma? Qual é portanto o problema do futebol, o seu cancro? Não é o "third party ownership", não a meu ver. O problema é financeiro. O mundo do futebol é quiçá dos mais férteis para os especuladores que visem tomar partido na acção. E tanto para os clubes como para qualquer outro agente, essa seria uma arma legítima com que poderiam delinear suas mais recambolescas estratégias. O problema é a supervisão financeira dos clubes, e uma posição firme face aos infractores! Como as ligas europeias seriam diferentes!

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