por Daniel André Teixeira'

O Rapaz do Saxofone

Leave a Comment

Podia ser como uma outra qualquer viagem de comboio, com início e fim mais que traçado levando a multidão que se juntou entre as carruagens num itinerário mundano e normal, mas não naquela noite.

Já com o escuro exterior embutido e com apenas as luzes da rua flagrantes a aparecerem como flashes entre a velocidade que a viagem pedia ele ali estava. Era a atracção da primeira carruagem. Sereno, sozinho e logo na primeira cadeira. Com ele apenas tinha um saxofone já preparado à sua frente. Apesar de incompleto (faltava a parte superior do sopro para criar o som) isso não foi impedimento para que o rapaz simulasse todas as notas, enquanto tocava nas teclas, ditando a pauta que só o seu cérebro sabia e lhe ditava.

Tocava veemente nas teclas do saxofone enquanto se punha de pé. Em seu redor as atenções estavam mais do que concentradas. Podia pensar-se, quem sabe pela hora ou pelo cansaço de mais um dia, que era apenas mais um louco de rua quanto mais não fosse pelo olhar directo e sério do rapaz que se mantinha focado na melodia silenciosa que criava.
Quem sabe se na sua mente não lhe passou o legado de Miles Davis ou John Coltrane e naquela viagem lá lhes fez o tributo à sua maneira.
Quase vinte minutos de "espectáculo" com um auditório improvisado.

A viagem terminou mas o jovem saxofonista não se fez rogado e todos os passos que deu desde a saída do comboio até ao fim da estação foram acompanhados com o toque dos seus dedos nas teclas, a melodia ainda não terminou para ele e era a sua companheira de percurso.

A prova que para se fazer o que se gosta não precisamos de toda a perfeição do momento, apenas o necessário.

0 comentários:

Enviar um comentário