O
mundo tem o condão de retocar certas realidades. Não pára de girar e de criar novos
elementos que fazem mudar a visão de coisas que estão connosco desde que nos lembramos.
O
futebol é um exemplo. Outrora olhávamos para o futebol como uma essência que não
seria possível retirar. Era algo simples mas bonito, admirado por massas e alvo
de atenção pela magia que trazia. Era ciência entre linhas, com mágicos a criar
tácticas à frente de um banco e uns deuses de chuteiras calçadas a deslumbrar
com uma bola nos pés. Cérebros, guerreiros e fantasistas: A alma de um futebol
de perdição.
A
realidade agora é outra. As fartas cabeleiras foram trocadas por cortes mais
refinados, a bola de trapos é agora mais aerodinâmica e com outra fibra, os
equipamentos agora são menos garridos e fora de tamanho onde as marcas apostam
tudo para se mostrarem dentro de campo e apelar ao conforto e os génios do
banco agora já vestem com outra classe onde até o mais básico fato de treino
pode equipar a um fato vistoso do outro lado. Se isto é errado? Não, não é isto
que condena o espectáculo na sua base, mas sim o que vigora atrás disto, os
seus bastidores.
O
futebol agora é mais apelativo atrás da cortina, nos gabinetes e reuniões. São senhores
que pouco têm a ver com o desporto que estão detrás de jogatanas financeiras,
que movem jogadores com valores astronómicos para seu interesse pessoal mesmo
que esses jogadores não sejam uma mais valia para o destino traçado, que criam
eventos megalómanos sem que isso tenha apreço para o desporto, exercem o seu
poder para que sejam tomadas decisões como desejam, que desviam fundos para as
suas contas desrespeitando toda uma história que o futebol criou.
Vivemos
num tempo em que a alegria e o talento de Cristiano Ronaldo e Lionel Messi
seguem as pisadas de lendas de outrora que encantavam bancadas, em que
Mourinho, Guardiola e Klopp são cérebros como senhores de outras décadas, em
que equipas como o Barcelona faz parecer o futebol em algo geométrico e fácil
de executar.
Infelizmente é o mesmo tempo em que escândalos de corrupção fazem capas mais
depressa, onde os órgãos máximos não são de confiar, onde há suspeição em
convocatórias, nomeações e eventos criando uma nuvem cinzenta sobre um desporto
onde a essência bastava para ser notícia.
Não
há solução aparente e rápida para este cancro do futebol. Dizem as mentes
brilhantes que devemos focar-nos nos pontos bonitos e altos que o futebol nos
traz como aquele penalti defendido e cria desespero e apoteose ao mesmo tempo,
aquele frio na barriga ao ver a equipa que apoiamos a entrar em campo … talvez
seja a solução para tapar alguns olhos, mas no fundo todos queremos é aquele
futebol de perdição que fez criar esta nossa paixão por este desporto.