Era
apenas mais uma viagem. O comboio chegava à estação, as pessoas procuram o luxo
de ter um lugar almofadado enquanto outras têm de seguir em pé, sem esse privilégio.
Ela
estava sentada, entretida no seu mundo com música reproduzida pelos seus
phones, tranquila e serena enquanto olhava pela janela. Ele entra e senta-se
perante ela. Por acidente, ou porque lhe chamou a atenção, ele foi ali parar. Rapidamente
tentou criar impressão e num relance procura no bolso um conceituado telemóvel
de uma marca da moda que se assemelha a uma maça já trincada. Ela segue impávida,
não o presenteou sequer com um olhar.
O
que podia ser uma mensagem esclarecedora dela tornou-se quase um desafio imperdível
para ele. Durante minutos e consequentes paragens, ainda que de modo suave, fez
questão de mostrar portátil e tablet (também da tal marca da moda) e ainda
criou uma busca por algo dentro de sacos de compras. Tudo em vão. Ela continuou
no seu mundo. Um quarto de hora de demonstração de bens que não teve direito
sequer a ser recompensado com um olhar de interesse ou curiosidade.
E
de repente, o cenário muda. O comboio pára e com suavidade ela pegou na sua
sacola e dirigiu-se para a porta. A viagem tinha terminado. Ele ainda a seguiu
com os olhos até ao momento em que as portas fecharam mas ela não olhou para trás,
sempre embutida de música nos seus ouvidos. Ele perdeu, mesmo tendo muito.
Será
errado presumir que uma outra aproximação mais directa fosse aquela que
trouxesse outro resultado que esta insignificante passagem rotineira, mas é
certo que basear uma aproximação apenas pelos bens e a sua vaidade tem os seus
dias contados. Resta saber se ele percebeu a lição e se numa outra ocasião, num
outro comboio talvez, ele consiga que alguém abdique da música que ouve e o recompense
com um olhar e conversa pela viagem fora.
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